Cara de mãe, elogio ou ofensa?

19 de maio de 2013 5 comentários


Por Stéphanie Brasil

Oie, meu nome é Stéphanie Brasil , tenho 27 anos, mãe de um menino lindo que leva o nome do Pai; Adam mas o chamamos de Dam...estou a espera de meu segundo milagre, ainda de 8 semanas , sem saber o sexo mas já sonhando com a chegada.  Passei a vida convivendo com o diagnóstico de esterilidade, engravidei duas vezes e naturalmente, vale dizer que da segunda, tomando anticoncepcional, então SIM acredito em Deus e confio Nele para tudo.

E
screvo o blog O que você vai ser quando crescer? Lá não só conto sobre todas as peripécias de meu filho como desabafo e confesso neuras. Amei receber o convite das Mamães em Rede e não podia deixar de participar. Resolvi falar um pouquinho sobre termos ou não cara de mãe, se é que a maternidade pode ter uma feição ou algo do tipo. 

No aniversário do Dam, recebi muitos comentários o quão estava parecida com minha mãe. E fiquei imensamente FELIZ e contente, fico muito lisonjeada ao ouvir que me pareço com minha mãe ou que tenho cara de mãe...

E
 ouvi um dos convidados falarem: - Para de falar que ela tá com cara de mãe...coitada! E nesse momento iniciou-se meus pensamentos “balonísticos” de Fantástico mundo de Bob, seguido de um: Tenho que fazer um post à respeito...

P
or que coitada? Por que ter cara de mãe seria uma ofensa ou xingamento? Acho que essa questão acaba tendo uma relação muito intensa com como você encara a maternidade, como você se preparou para recebê-la, se você conseguiu aceitá-la com todos seus prós e contras ou tentou montar um combo só com o que você considera realmente importante.

E
u recebi a maternidade de braços abertos, como se fosse uma estudante intercambista... desconhecida, mas esperada, desejada, querida. Fui recepcioná-la no aeroporto, levei plaquinha escrito: Prazer, sou Stéphanie. Preparei almoço, dei festa de boas vindas, apresentei aos familiares, montei um quarto, transformei-a em membro da família. E ela foi ganhando espaço, invadindo meu corpo, tornando-se meu ser... o resultado de positivo, transformou a maternidade em um vírus que me tomou, sofreu osmose em cada uma das minhas células, mutações que à tornou doença auto-imune, impossível curar-se e quando acomete-se desse “mal” basta esperar os sintomas.

D
esejava, ansiava por cada sintoma desde as olheiras crônicas, ao furo na carteira...desde a Síndrome do altruísmo em prol da prole, até os ataques de Corujismos fulminantes. Quis sentir cada um deles, logo ao confirmar a gravidez sorria por sentir enjôo matinal, agradecia por cada kg ganho, sonhava em ver o barrigão gigante, esperava as noites em claro, os choros estridentes, as fraldas sujas, os seios explodindo porque com os sintomas eu ganharia uma semente de gente, germinada, pronta para transformar-se em árvore. Ganharia um bichinho virtual com pilha inacabável, um bonequinho feito à minha imagem e semelhança, o resultado de um amor, a mistura de duas pessoas inseparáveais em um casamento eterno. Prosa e poesia no mesmo verso, amor e sorte em uma só estrofe.

O
s sintomas vão te transformando gradativamente, age como o T-vírus (aos amantes do Resident Evil) transforma a pessoa em mutante, no meu caso eu tive o resultado do Projeto Alice. O casamento perfeito de doença e cura ... meus anticorpos se apaixonaram de maneira tão devastadora pelo vírus que tornaram-se unos, me transformaram em Super Mulher, orgulhosamente apresentaram a Mãe que eu podia ser, com todos seus jeitos e trejeitos. E eu aceitei cada mania irritante, aquela de molhar o dedo com saliva para limpar o sujinho do rosto, aperto de bochechas, ataques de beijos ... tudo, quis tudo. Quis barba, cabelo e bigode. Chatices, manias e graças.

M
as calma, calma não priema os cânicos... o antídoto já foi descoberto e já existe um modo de tornar-se mãe sem casar-se com a maternidade. Você já pode terceirizar as olheiras, abrir mão da pose de responsável e continuar com cara de baladeira. Pode ser uma “mãe de certidão” , àquela que opta por escolher um combo pré-selecionado, joga pra vó as partes ruins, enfia debaixo do tapete os vestígios que lhe tirem o brilho virginal, esconde com base os resquícios de ares maternal.

M
antém-se intacta, com jeitinho de adolescente pré-mulher,  uma aparente ninfa digna de ser pintada em ilustração pro “Sonho de uma noite de verão”, um ser quase mitológico, facilmente imaginável montada em um unicórnio. Joga no face umas fotos com roupas de baile funk, mescla com algumas poucas da prole como moldura e mantém-se o centro das atenções em seu egoísmo de filha. Não aceita-se como mãe, vacina-se contra rótulos e se intitula como: A mesma de antes...

N
ão estou falando que ao tornar-se mãe devemos nos vestir como Madalena arrependida e nem que devam cortar o cabelo de Willie Wonka como o meu. (Sério estou me achando uma Johnny Deep sem a beleza com esse cabelinho, “Creusa” – não vejo a hora que cresça) e nem que o hábito faça o Padre... mas acredito que exista um bom senso que deva prevalecer. Colocar uma saia que parece cinto, um decote que vai no umbigo e equilibrar-se em um salto 15 cuidando de um bebê. Chega a ser malabarismo com facas em chamas. No mínimo inusitado e desproporcional, a não ser que você queira mostrar a calcinha, que vejam seu bico do peito ou agulhar a mão do seu filho com o salto. Porque correr atrás de um “bebê fujão” vestida desse jeito, é ir na São Silvestre com pé de pato.

E
 as mamães solteiras de plantão, que resolvem não só manter distância da maternidade como fazem questão de deixar isso visível. Esquecem que têm uma reputação a zelar, ou melhor deixam em casa a sílaba Re, junto com a vergonha na cara e ficam numa “putação” que só. As redes sociais viram exposição, é foto com o moreno na segunda, com o loirinho na quinta e japonês no sábado. Frases etílicas, saudando o final de semana, festas no estilo Spring Break.

O
uço uma vozinha gritando: Ah Querida...eu tive um filho, mas não morri. Tenho direito de ser feliz, já que não foi com o pai do rebento que seja com o outro...

C
laro, minha filhota. Você tem todo direito de ser feliz, encontrar um novo affair e se divertir. Mas que me lembre a Virgem Maria foi só uma, tenho certeza que seu pequeno bambino não foi parar no barrigão por obra do espírito santo. A mente peca e o corpo padece. Não vá me dizer que justamente na aula que explicava de onde veio os bebês você faltou? Nessa, não né? Porque você treina que é uma beleza, mas as dos métodos contraceptivos não era tão interessante e você resolveu deixá-la em stand by? Tsc Tsc agora arque com as conseqüências e cumpra com suas obrigações. Seja responsável agora, já que deixou de ser no passado.

V
ocê tem um espelhinho, doido a aprender coisas novas. O que você quer que ele reflita? Um espectro que mal tem amor próprio, que não respeita nem a si mesma, que cultua o corpo e despreza o valor de relacionamentos, que se importa mais que o próprio umbigo tenha um penduricalho dourado do que a atualização da carteirinha de vacinação?

Qual modelo de mãe você quer ser? Mais modelo do que mãe? Paga drenagem, progressiva e unha de cristal, mas quando pensa em pagar uma escola, resolve colocar na ponta do lápis e achar caro. Prefere limitar os gastos do filho ao valor da pensão, mesmo que seja um ínfimo dígito.


SIM!!! O pai tem obrigações, mas se ele tem a capacidade de revelar-se um lixo paternal prefere nivelar-se, prefere igualar-se ao desprezo e seu filho que se vire afinal se ele não pediu pra nascer, você também não e cada um na sua?

A
gora ouço vaias e olhares repressores... Calma, Calma!!! Em momento nenhum fui preconceituosa e quis insinuar que as mães solteiras são menos capazes. Tem muita mãe solteira que vale por família inteira.

H
á muito que aliança não significa nem mesmo fidelidade, quem dirá a aceitação de um novo status. Muitas vezes a família relativamente “estruturada” acaba por desorganizar ainda mais os papais que devem ser vividos, aliança não quer dizer uma aceitação do casal como pais. 

Às vezes a figura teoricamente paternal acaba enfrentando uma desaceitação parental tão grande como a mãe que não se encontra na maternidade. Acaba sendo um pai querendo ser homem, a mãe preocupada em ser esposa e a criança obrigatoriamente se vê presa no papel de filho, mas acaba representando um elefante branco, um enfeite de estante... com horários inconstantes, regras inexistentes, displicência como companheira. Você consegue enxergar um casal e um bebê e não uma família como deve ser. 

R
esumindo: A maneira com a qual encaramos o que significa ter cara de mãe, a interpretação de elogio ou ofensa está intimamente relacionado com o modo que resolveu relacionar-se com a maternidade.

N
o meu caso, ter “Cara de mãe” é elogio, lisônjea pura. Se me acham com cara de mãe é porque meu olhar transloucado de adolescente impertinente deu lugar ao sereno observar, que a irresponsabilidade do imediatismo intransigente foi substituído pelo mediato e ponderado, quer dizer que estou conseguindo que transpareça a gratidão por eu ter um sonho vivo, engatinhando, crescendo e se transformando. Eu quero ter cara de mãe, jeito de mãe, corpo de mãe porque a alma de mãe ganhei ao ser concebida. 


                 Stéphanie é autora do blog O que você vai ser quando crescer?




* E você que acompanha essa coluna do MR, participe. Envie sua postagem para mamaesemrede@gmail.com e veja o seu relato influenciando as mamães em rede.

5 comentários:

  • Bolhinhas de Sabão para Maria disse...

    Olá Stephanie, texto belíssimo. Um desabafo e uma euforia maternal.

    Quem me dera eu tivesse realmente a cara da minha mãe em sua essência: doce, meiga, pura.

    Ela muito me passou, muito me ensinou, porém qualidades maiores estão nela. Mas ela me deu cara de mãe e hoje eu a tenho com muita força e alegria.
    Sim, força. Me sinto mais forte a cada vez que me vejo mãe, ou seja, toda hora.

    Tenho cara de mãe sim, isso herdei dela, na vontade enorme de amar, de educar de ser feliz eternamente com minha filha....

    Acho que cara de mãe é tudo isso... e um tanto mais, que vale muito a pena...

    Parabéns pelo texto. E seja sempre bem-vinda aqui no MR. Abrilhantou o quadro ParticipaMãe.
    Obrigada.

    Beijos
    Teresinha Nolasco/ MR e Bolhinhas de Sabão para Maria

  • Genislene Borges disse...

    Oi minha querida, obrigada pela linda participação por aqui.
    Interessante como são as coisas, quando engravidei, todos diziam que estava com cara de mãe, hoje, mais ainda e, tb considero isso um elogio.
    Grande beijo, Genis

  • Carol Meoli disse...

    Olá, obrigada por participar, adorei!

    Quando eu estava grávida de pouco tempo, as pessoas falavam que estava com cara de mãe!
    Mas perae, que cara tem uma mãe??? Não entendo isso!!!

    Hoje não me falam mais nada que tenho cara de mãe mesmo?
    Mas acho que soa como elogio!

    Beijos

  • Unknown disse...

    Olha posso dizer que estou gravida de 10 semanas e hiper feliz pois lutei muito para engravidar...mas não gosto muito quando alguém chega pra mim diz que eu estou com "cara de mãe..." aff é de doer porque pra mim minha "cara" continua a mesma...fico hiper desconfortável...até eu começar a pensar nisso como elogio vai ser um longo caminho obrigada adorei seu texto!!!!!

Postar um comentário

Quando você comenta, também participa do Mamães em Rede! Comente, participe, pergunte. Obrigada!

 

©Copyright 2012 - Todos os Direitos Reservados - Mamães em Rede | Design By Arte Design